Apocalypse Now

março 31, 2011 at 9:09 pm (Uncategorized)

My film is not a movie. My film is not about Vietnam. It`s Vietnam. It was really like. It was crazy. And the way we made it was very much like the way americans were in Vietnam: we were in the jungle, there were too many of us, we had access to too much money, too much equipment. And little by little we went insane.

Francis Ford Copolla, sobre Apocalypse Now

Quando Copolla finalizou O Poderoso Chefão, antes de lança-lo no cinema e alcançar fama e dinheiro com aquele que é um dos mais respeitados filmes de todos os tempos, ele confessou a alguem: “eu fiz um filme longo que só tem conversas em quartos escuros. Ninguem vai querer ver.”

Copolla é o diretor mais velho , e praticamente lider da geração de cineastas que mudou a forma de fazer cinema nos EUA  nos anos 70. Foi um dos primeiros cineastas americanos a aplicar em hollywood os fundamentos da escola europeia de cinema dos anos 60 que afirmava que o diretor de um filme é um autor, um artista. Um filme deve refletir o estilo de cada diretor. Hoje, é facil pra gente entender que essa é uma ideia óbvia. Temos inúmeros exemplos de diretores cujas filmografias são bem homogêneas no sentido da estetica. Por exemplo, é muito fácil reconhecer um filme de Tim Burton, ou de Quentin Tarantino. Seus filmes, apesar de variarem bastante nos temas, denunciam seus estilos. Nos EUA, antes da década de 70, um diretor nada mais era que um empregado do estúdio que financiava o filme. Ele era pago pra garantir que os atores estivessem nas suas marcações e dissessem suas falas corretamente. Uma vez que terminada a filmagem, o trabalho do diretor estava pronto, ele não se comprometia com pré, nem pós-produção, e não tinha o direito de colocar a sua visão da historia no filme.

Com estúdios indo um a um quase à falência por causa dos épicos caríssimos que não mais atraiam público como na época de E o Vento Levou.., e filmes com orçamentos mínimos, e que por causa disso com maior liberdade para os diretores, fazendo cada vez mais dinheiro (como Bonnie e Clyde, Sem Destino, A Primeira Noite de um Homem), uma nova era foi fundada ( a Nova Hollywood) com mais liberdade de criação para os diretores, contando que ficassem dentro do orçamento, e temas que jamais tinham sido tratados no cinema foram postos na tela. Os herois e galãs deram lugar ao homem comum na maioria dos filmes, e um clássico foi lançado após o outro (O Poderoso Chefão, Taxi Driver, O Exorcista…).

Grandes cineastas começaram a fazer filmes nessa época (Scorcese, Spielberg..), e Copolla foi o principal deles. Apocalypse Now foi um filme de Copolla de 1979. É um filme envolto em inúmeras dificuldades e histórias hoje lendárias: Martin Sheen ( o pai do loucão do Charlie Sheen), protagonista do filme, sofreu um ataque cardíaco durante as filmagens, que foram feitas nas Filipinas no meio da selva e estavam programadas para 112 dias e acabaram se estendendo a 238, Marlon Brando apareceu obeso sem ter lido uma página do Coração das Trevas, livro no qual se baseia o filme, tufões recorrentes destruiram cenários, helicópteros usados no filme  foram alugados do governo filipino que mandava representantes no set para confisca-los de uma hora pra outra, etc. Copolla quase foi a falencia por ter hipotecado seus bens para financiar o filme. Um documentário, chamado Hearts of Darkness,  feito a partir de converas de Copolla e sua esposa, secretamente gravadas por ela durante a produção, retrata bem o que ele impôs a si mesmo, à sua familia e a todos os envolvidos com o filme para que ele fosse realizado. Em vários momentos do documentário Copolla diz não  saber o que estava fazendo e que tinha certeza que o filme não prestaria, e mesmo assim colocou na roleta tudo que tinha pra realiza-lo, inclusive sua sanidade mental. Tudo isso, para não perder o controle (ou a ilusão de controle) sobre sua obra.

Robert Duvall, numa das mais famosas cenas do filme.

Deixe um comentário